Apesar das diferenças, um clube de futebol e uma empresa têm muitas semelhanças. São tantas que um clube pode até chegar ao ponto de se transformar em uma empresa consolidada. É o que está acontecendo com alguns da Série A do futebol no Brasil. A pauta é tão relevante que o texto-base do projeto de lei que permitirá a transformação de clubes em empresas foi aprovado em novembro pela Câmara dos Deputados.
Sem entrar no mérito da necessidade de se profissionalizar, ou mesmo nos motivos para não o fazer, em termos da paixão envolvida, assim como as empresas, os clubes têm deveres semelhantes. Terão obrigações idênticas, recebíveis e investimentos, precisam de resultados para sobreviver a longo prazo e a boa gestão e planejamento são fundamentais.
Já existem, obviamente, profissionais no futebol. Cada um com sua função e especialização, normalmente chegando as posições por sua habilidade esportiva ou história próxima ao esporte. A maioria dos clubes, devido aos seus estatutos e gestão não consegue equilibrar as contas.
Quanto as semelhanças nos dias de hoje, vamos imaginar um demonstrativo de resultados de uma empresa. Ele contém seu faturamento, custos operacionais e financeiros e seu lucro. Vejamos:
Faturamento: podem ser considerados os resultados de bilheteria ou venda de ingressos, venda das lojas com uniformes e outras ações de marketing, associações com o Programa Sócio Torcedor do clube, patrocínios diversos nos uniformes e estádios, venda de jogadores e direitos de transmissão.
Operação: para formar um bom elenco, é preciso prospectar e negociar bons jogadores e/ou formar seus próprios craques pelas categorias de base. Nas empresas, o equivalente seria o trabalho de compras e no segundo caso, a função do RH. Nestes quesitos com o desenvolvimento, treinamento e compra de jogadores, estão os maiores custos dos clubes, incluindo os salários, seus direitos de imagem, prêmios e a remuneração da direção e gestão do clube.
Finanças: o clube precisa sem dúvidas de um planejamento financeiro e uma gestão de caixa rigorosa. Pode antecipar seus recebíveis, conseguir patrocínios ou vender ativos (jogadores) para cumprir com suas obrigações de curto e médio prazo. Mas o principal é ter tudo isto planejado, com os riscos medidos. Todos já ouvimos muitas histórias a respeito dos bastidores do futebol, mas vamos considerar apenas os riscos do esporte e os que são naturais de acontecerem, por mais raros que possam ser: fraturas, contusões, eliminações de competições e infelizmente tragédias fora de campo com jogadores.
Com a transformação do futebol dos clubes em empresas, os gestores terão ainda um grande desafio no que se diz respeito ao compliance, tanto em suas próprias contas quanto as regras de funcionamento em geral. Isso implicará em uma adaptação ou reforço da organização jurídica.
Por se tratar de um esporte e que teoricamente todos os clubes podem ser campeões de determinada competição, vamos considerar que operacionalmente a gestão dará todos os recursos necessários para o time desempenhar seu papel: monitoramento e recompensa dos jogadores por desempenho, recursos para comissão técnica realizar aplicação tática imaginada e infraestrutura médica e fisioterapêutica e de treinamento.
O time (empresa) passará a ter um conselho. Idealmente o conselho deveria ter a participação dos torcedores (talvez via sócios). O conselho deverá definir as estratégias do time que deverão ser formalizados em um planejamento estratégico. A gestão deverá realizar o plano no sentido de disputar campeonatos, criar/aumentar suas fontes de renda e reduzir custos.
Obviamente que todas as técnicas de gestão podem ser aplicadas, mas precisam ser adaptadas a realidade dos clubes nacionais, assim como a qualquer outra organização.
Ou seja, podemos e devemos sim aplicar os conceitos de gestão e lean na administração dos clubes de modo a poder conseguir os mesmos resultados de eficiência de qualquer outra organização, para atingir seus fins. No caso dos clubes, satisfazer seus sócios e torcedores, ganhando títulos para perpetuar sua marca e crescer.